PREFÁCIO DE MICHEL ODENT PARA O LIVRO: PODE A HUMANIDADE SOBREVIVER A MEDICINA

Encontramos um dilema, antes mesmo de apresentar este livro ao público brasileiro. Como lançar um livro feito de pontos de interrogação? Com que pergunta começar? Qual deveria servir de título? Seria melhor imitar a edição britânica e começar com uma pergunta prática sobre a necessidade de parteiras? O título da versão inglesa Do We Need Midwives? (Precisamos de Parteiras?) convém a um país com um grande número de parteiras e um prestigioso Royal College of Midwives (Colégio Real de Parteiras).

No Brasil, onde a palavra parteira tem uma conotação diferente, nos parece relevante imitar a edição francesa e começar perguntando por quanto tempo a humanidade pode sobreviver à neutralização das leis da seleção natural, pela medicina reprodutiva. É fato indiscutível que a seleção natural, uma lei básica da vida, vem sendo neutralizada numa época de assistência farmacológica e cirúrgica ao parto, numa época de concepção e contracepção medicamente assistidas: todos seres humanos podem planejar o número de filhos que desejam, independente do grau de fertilidade, e no caso das mulheres, independente da sua capacidade de dar à luz.

Tive razões especiais para discutir amplamente a apresentação dessa edição com os meus amigos brasileiros que atuam no universo do parto e do nascimento. Uma delas, é que o Brasil está bem adiantado na neutralização das leis da seleção natural. Outra, é que o Brasil é um país onde eu me sinto em casa.

Nessa virada da história do domínio do Homo sapiens sobre a natureza, a prioridade é formular perguntas vitais.

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